domingo, 11 de setembro de 2011

Gente pequena ensinando Gente grande


Essa semana eu vi a menina que estava nas ruas com os pais...Chegando na sede do conselho, a vi e não consegui lembrar quem era ,mas tinha certeza que conhecia. Fiquei por uns segundos a olhando e pensando que eu tinha que lembrar. Ela me olhava e sorrindo...um sorriso lindo.
Fiquei tão envolvida com meus pensamentos que nem percebi que estava sentada no colo da tia e esta, claro, eu lembraria assim que a visse, mas eu não via. Impressionante, mas não via.
Depois de algum tempo,a tia quebrou o silêncio e falou numa unica frase quem era aquela menina. E eu, claro, nossa, me lembrei.
Que diferente ela estava. Limpa, com cabelos bem cuidados. Roupa muito limpa, cheirosa e com um sorriso que eu nunca tinha visto. Jamais a reconheceria mesmo.
E estava alegre, falante e mesmo tão pequena, com sonhos e vontade de resgatar o irmão mais novo (quase 02 anos) das ruas, com os pais. Ela disse pra tia, assim que pegaram um  Termo de Responsabilidade: ...."vamos tia, precisamos achar minha mãe pra pegarmos meu irmãozinho. Ele tem que ir com a gente."

O artigo 04 do Eca fala sobre o direito à Convivência Familiar e é realmente fundamental. A ação de tirar de uma situação ruim, de riscos, não significa levar rapidamente, correndo ao acolhimento institucional e sim, colocá-la  na convivência familiar...com quem tem afinidade, carinho, convivência de fato, e ai, mesmo estando longe dos pais, se sentirá segura, tranquila, certa de que está tudo bem, tanto que nesse caso, inclusive, a criança queria buscar o irmão já naquele dia, naquele momento.

É fundamental que tenhamos essa consciência, de que o acolhimento institucional só vem depois das tentativas todas de colocação no convívio,no seio da família, sem que ela seja prejudicada na garantia dos seus direitos, é claro, principalmente levando em consideração, a proteção.

Tem muitos filhos, mesmo crianças, que conseguem ver a situação sua e dos irmãos, com maturidade o suficiente pra deixarem os pais e ainda cuidarem deles, até por meio de orações feitas incessantemente ao Papai do Céu...como já presenciei em muitos casos.

Fiquei muito feliz com esse caso, que parecia não ter fim..Um ir e vir , de conselho em conselho, de conselheiro em conselheiro, policia, GCM, gabinete, promotoria, até um determinado dia que me enxuriçei e falei pra mãe e uma tia que tinha vindo pro centro da cidade visitar toda a família que estava vivendo debaixo de uma lona, que se não entrassem na kombe e se virassem junto da família, ia todo mundo se separar e não tinha mais volta.  Toparam ir pra avó paterna. Chegando lá, a avó falou que  a cidade tinha que dar um jeito de arranjar moradia pro filho dela que ai sim, ele conseguiria cuidar dos filhos.
Oras bolas, eu disse:  ...." quase me mato de tanto trabalhar, fico muitas e  muitas vezes sem comer....não durmo...pra poder me virar e ninguém paga minhas contas. Tenho um tantão de dívidas e não tenho moradia também. Tenho que me virar nos trinta e pagar aluguel. Choramos juntos por nossas situações. falamos de nossos dissabores...de nossos sonhos desfeitos...da minha catança pelas ruas....de tudo.
E vim embora...e olhei pro menino e falei: "....cuide de sua irmã, no sentido de entenderem que aqui está a família de vocês e ficarão bem aqui, debaixo de um teto, se não for assim, os levarei pra um teto diferente, onde não terão avós, nem tias e nem tios e nem primos . Apenas amiguinhos e gente grande que cuidarão de vocês. Ele levou tão a  sério minha fala que decidiu combinar com a irmã que ficariam com a vovó eque seriam felizes sim.
Estão na escola e amando brincar com os primos e não querem mais voltar para as ruas.

[devemos respeitar o ECA]

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