terça-feira, 6 de setembro de 2011

Descartando vidas de nossas vidas
[vidas geradas por nossas vidas]
Outro dia me deparei com uma situação de um adolescente muito mal querido pela mãe e irmã.
Na realidade, não entendi muito bem aquela situação, que aos meus olhos naquele momento, não tinha sentido algum.
penso até hoje no adolescente que não me deu abertura pra que pudesse entender sua história...ele se  aquietou num canto, deixando muito claro que a sua situação ele mesmo resolveria[ não sei se conseguiu resolver, mas também não me ligou, embora eu tenha deixado todos os meus contatos].

A mãe alega que desde a separação dela com seu marido, há doze anos  atras, nada vem acontecendo dentro da  normalidade.  Ela discute demais com o filho e ele não aceita as regras que ela impõe e o ex marido,como se casou de novo, não quer o filho por perto, pra não incomodar. A esposa dele é muito nova e não aceita o filho dele.( o que a mãe do adolescente relatou).
Eu ainda não falei com o ex marido, pai do adolescente.  Mas iremos conversar.

Bom, esses tipos de conflitos familiares, que surgem com a separação do casal e que depois,acabam acarretando certos males em relação aos filhos,tem conselhos tutelares que nem atendem. Estava em São Paulo, certa vez e um conselheiro  relatou que essas situações são resolvidas diretamente na Vara da Família e não passam pelos conselhos tutelares e se alguém for procurá-los,eles já orientam irem diretamente  ao Fórum.
Me preocupo com isso,porque na realidade, sabemos que os Fóruns estão hiper lotados de serviços e com isso, os atendimentos são muito demorados. Muita coisa pode acontecer nesse período. Então, prefiro acreditar que mesmo os conselhos tutelares não sendo super salvação , dá pra fazer alguns encaminhamentos e acompanhar o caso enquanto isso, pra que  possa evitar possíveis tragédias.

No  caso do adolescente, ouvi a mãe, a irmã , que foram muito claras em dizer que seria bom que o Conselho Tutelar fizesse alguma coisa, o levasse pra algum lugar,porque não era mais  oportuno que ali permanecesse.
Cuidadosamente, falei sobre deveres de mãe e pai, ou responsável.  Falei sobre  seres humanos não serem objetos de descarte.  Falei sobre o amor ao próximo. Falei sobre ser mãe e principalmente mãe cristã, que é o que já tinha mencionado ( sobre ser cristã e ter  temor a Deus).

Fico pensando , ultimamente, com frequência,sobre o "descartar pessoas". Muitas são as mães que simplesmente decidem descartar os filhos...mas  descartar mesmo,literalmente.  Sem a questão familiar.Simplesmente descartar. Deixar de lado.

Me lembro , que em 2009, uma avó chegou na sede do conselho tutelar, com duas lindas meninas ( suas netas) e na época, elas tinham 02 e 03 anos.E simplesmente olhou pra conselheira tutelar que atendeu o caso e disse que tinha pressa e que o conselho que se virasse com aquelas meninas, que atrapalhavam sua vida.
Tínhamos acabado de assumir e eu fiquei chocada com essa atitude.Nunca tinha visto uma avó descartar os netos...nossa! as meninas estavam tão lindas, tão bem arrumadas e até hoje se encontram acolhidas,numa instituição aqui na cidade de Osasco. A  burocracia emperra tanto, que elas estão crescendo sem uma família.

E o tempo foi passando e quantos outros casos atendemos com esses relatos tristes de descartes. Estou falando daquilo que vi, que presenciei, fora os outros tantos casos que vemos pelos noticiários.

E esse adolescente ficou lá, em seu quarto, todo organizado. Paredes muito bem pintadas. A mochila, em cima de uma cadeira , aos pés da cama.
Na cabeceira, uma parede imitando aço escovado. Ele, deitado, olhando pro teto. Pro nada. Vez ou outra nossos olhos se encontravam. Só isso. A mãe, falando muito calmamente,com seus cabelos muito loiros. A irmã, mais nova, mas  com firmeza em suas falas.
Era tudo tão simples, nos relatos." Não temos condições de mantê-lo aqui." Ele não cumpre regras e as regras eram: apenas estude. Não pode sair. E ele dizendo estar estudando, organiza o quarto, que estava muito organizado mesmo.
Perguntei se queria ir com o pai, e ele respondeu que não. Prefiro ficar aqui com minha mãe. (ele disse). Doeu minha alma. Como uma mãe não entende essa fala? O que teria acontecido naquele lugar?
Onde ficou escondido o amor? Em que momento tudo se desprendeu? Porque tanta frieza num ambiente que deveria ser cheio de energia, de vida?

Ela ( a mãe) me disse que gostaria que eu falasse com o ex marido e exigisse que ele tomasse providências em relação ao filho, que nem sua família, queria mais ajudar ( no caso,os tios maternos).
Combinamos de nos falarmos pra resolvermos,juntos, já que ele (o adolescente) já fez 16 anos e talvez, nem tenha a necessidade de correrem pra o fórum. Uma solução em família, deve resolver tudo.
Mas saí de lá com o coração machucado. O olhar preso no teto, daquele menino tão lindo, tão só, jamais sairá de meus pensamentos.

E na sexta feira a conversa será com o pai.


( ficou decidido que o filho continue com a mãe e irmã, até que se decida junto ao pai. O adolescente passará por psicólogo/encaminhamento dado pelo conselho tutelar.)

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