sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Passando a Régua. Quem paga a conta?

Logo de inicio tinha certeza que era apenas manha da menina que encontrei sentada num determinado local aqui da cidade.
Tinha lágrimas nos olhos e o rosto marcado por um choro que já vinha de algum tempo. Braços cruzados, muito bem arrumada, celular no colo....mochila perto.cheia.
Relatou o que já tinha relatado à moça da GCM. Falou a mesma coisa que estava anotado numa folha de caderno da funcionária.
Perguntei numero de telefone da mãe e disse não ter. Falava, com a voz embargada que tinha sido expulsa de casa, depois de uma discussão com a mãe. Explicou que não é filha legítima e que veio pra cá, de muito longe, aos 05 meses de idade e foi criada por essa família, que cama de mãe e pai e que tem irmãos.
Parava de falar, pra chorar. O choro era realmente sentido. Comentei que talvez não passasse de uma confusão e que tudo estaria normal. Ela disse que não. Que não queria voltar de onde veio pois sempre ouviu dizer que sua mãe biológica não tem como cuidar de nenhum filho. Teve 08 e deu todos. Sempre ouviu isso. Ouviu também que veio de uma família muito muito pobre, sem condição alguma de sustento . E que agora, essa mãe estava disposta a entregá-la ao pai biológico, que não tem vínculo algum mais.
Pediu pra ir na casa da madrinha, que mora na divisa de Osasco /São Paulo.
Ligo pra então madrinha, que disse tido bem e que explicou não ser madrinha dela e sim do seu irmão pequeno.
Essa menina?
- 14 anos-
Consigo então o telefone da mãe , através da então madrinha. Ligo e ouço exatamente o que a menina linda disse.
Pausa. reflexão.
Espera ai: você pega a menina de 05 meses , fica com ela até agora e simplesmente põe na rua?
Coloco e dai...não quero mais. Ela virou Skatista. Não dá. Não posso. Não gosto.Não quero.
Ela nem pergunta quem está ao telefone e eu não digo nada. O papo continua por mais alguns poucos minutos e esclarece que não quer saber.
A menina que vá pra casa da madrinha do meu filho. que vá pra qualquer lugar.Não é mais problema meu.
Assim termina nossa conversa.
Passo com a menina na casa do homem que chama de avô ( na realidade, é um senhor que sua mãe cuida) e lá está o seu skate.
Vamos pra casa da tal madrinha que a recebe com muito carinho. Ela é uma menina tranquila. No caminho, fala que não quer ir embora. Quer ficar aqui, em São Paulo...lá pra longe não quer ir. Tem medo.Ama essa madrinha. Se sente segura. Confortável.
Se abraçam. Choram juntas. A madrinha diz que posso ficar tranquila,em paz.Lá estará bem.

Nota:
Venho pra casa. Menina tranquila. Numa boa casa. Num lar de verdade. Amada.
Na segunda feira, faço encaminhamento ao Fórum , pedindo aplicação do artigo 249 do ECA.

Finalizando

O ECA é claro em seu artigo70 , sobre ser dever de todo cidadão zelar por garantia de direitos.
Fico pensando em como está fácil o descarte de crianças e adolescentes. Enjoa-se e joga fora. Descarta simplesmente. Uns jogam da janela, outros esquartejam,jogam nas caçambas, bueiros, esmagam a cabeça, matam, estupram, esbofeteiam, botam pra trabalhar....enfim.
Vejo pouco acontecer. Aqui mesmo, o pai que meteu paulada na cabeça da filha quando dormia, está solto.de boa!
O outro,que meteu o dedo na vagina da criança, está solto. De boa!
O que achou normal a filhinha de 02 anos brincar com o seu "pau", está de boa!
Artigos do ECA:
3º gozam de todos os direitos
4º absoluta prioridade à 13 direitos fundamentais
18 dever de todos velar pela dignidade
70 citado acima
enfim.......direito de todo jeito. Preconiza-se isso tudo.
Falam-se aos quatro ventos. O que acontece quando tudo está errado?
Não vejo acontecer nadaaaaaaaaaaaaaaaaaaa.
espera ai: quem é que vai pagar a conta desse descaso?


A menina chorou copiosamente todo o percurso. Dor na alma. Estava sendo expulsa de casa, por nada. Expulsa de um lar. Da vida das pessoas. Machucou até em mim. Imaginem nela. 
Foi colocada de lado. Pra escanteio. Não vale mais. Não serve mais. Deixada de lado.
14 anos.
Meu Deus!
(em homenagem ao que a menina gosta: Skate) eis o seu pecado.

Um comentário:

  1. Ai Rose é de chorar!!!! Se esperarmos que as autoridades competentes façam algo....vamos cansar! ... e quem paga a conta sempre são eles: as nossas crianças e adolescentes.

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